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Decola primeiro avião de passageiros movido a biocombustível

Reuters

A KLM Royal Dutch Airlines, unidade da Air France, tornou-se nessa segunda-feira a primeira companhia aérea a promover um voo comercial movido em parte por bioquerosene.

Durante o voo de uma hora e meia sobre a Holanda, um dos motores do Boeing 747 foi abastecido com uma mistura de 50% de biocombustível sustentável e 50% de querosene tradicional. Os outros três motores foram alimentados por querosene normal.

O executivo-chefe da KLM, Peter Hartman, disse que o biocombustível usado no voo reduz as emissões de CO2 em até 80% em comparação com o querosene convencional.

“Esperamos receber a certificação até o final de 2010. Depois disso, a questão será a rapidez com que o biocombustível será produzido”, disse.

Os aviões são responsáveis atualmente por 2 a 4% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) no mundo. Especialistas dizem que as emissões globais da aviação podem chegar a 2,4 bilhões de toneladas em 2050, o que representaria entre 15 e 20% de todas as emissões de CO2 permitidas sob um acordo global e um aumento de quase quatro vezes em relação aos níveis atuais.

Na segunda-feira, a KLM, North Sea Petroleum e Spring Associates fundaram o consórcio SkyEnergy, que tem por objetivo garantir um suprimento suficiente de biocombustível para aviões.

“Já demonstramos que é possível. Agora governos, indústria e a sociedade precisam se unir para garantir o acesso rápido a um suprimento contínuo de biocombustível”, disse Hartman.

Harro ten Wolde e Sverbor Kranjc

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Quer comprar um carro a diesel?

Mesmo que queira, não pode, porque uma lei ultrapassada proíbe a venda no Brasil de carros de passeio a diesel…

Por incrível que pareça, a indústria brasileira fabrica esses carros, mas só a fim de exportá-los para nossos vizinhos da América do Sul e para a Europa. Não fosse isso suficientemente absurdo, em nossas cidades circulam utilitários esportivos movidos a diesel, mas quase todos importados e vendidos a preços que só a classe A pode pagar.

Essa situação de todo esdrúxula teve até uma origem racional, quando, em meio ao choque do petróleo, foi proibida a produção e a venda de veículos de passeio movidos a diesel, sobretudo com vistas a reduzir os custos com a importação do produto e estimular o consumo de álcool.

O que não se justifica é a permanência da proibição 33 anos depois, num momento em que o etanol já ultrapassou em volume a gasolina como combustível para carros de passageiros e o Brasil se tornou autossuficiente em matéria de petróleo.

Na verdade, graças a seu maior rendimento termodinâmico, os atuais motores a diesel gastam significativamente menos combustível que os motores movidos a gasolina ou etanol, além de durarem mais tempo.

Não é à toa que, já em 2008, a maioria dos carros vendidos na Europa veio equipada com motores a diesel, percentagem que ultrapassou 70% na França e na Bélgica.

Por outro lado, agora que os modernos motores a diesel emitem menos gases poluentes que os motores a gasolina, todas as grandes montadoras se aprestam a lançar nos Estados Unidos modelos capazes de competir até mesmo com os híbridos (gasolina / eletricidade) no mercado de “veículos verdes”.

Apesar disso, são os ambientalistas que se opõem ao projeto de lei de autoria do senador Gerson Camata (PMDB-ES) que derruba a proibição hoje insensata.

Apontam em especial para os altos teores de enxofre no diesel vendido no país e, diante dos malefícios que a emissão de particulados traz à população, realmente têm razão em postular o suprimento de combustíveis mais limpos em linha com os padrões adotados no exterior.

Mas, exatamente com esse propósito, foi firmado, em outubro do ano passado, um acordo entre o governo federal, a Petrobras e o Ministério Público segundo o qual, a partir de 2011, em todas as regiões metropolitanas, será utilizado o diesel com 50 partes de enxofre por milhão, reduzindo-se tal coeficiente para 10 ppm em 2013.

Tem faltado também, na análise dos ambientalistas, a verificação de que, sem prejuízo dos maciços investimentos a cargo da Petrobras na área de refino do petróleo, é possível reduzir substancialmente a presença do enxofre no diesel mediante sua mistura com o biodiesel, que não contém uma única partícula desse elemento tóxico.

Além disso, por ser produzido a partir de óleos vegetais e gordura animal, o biodiesel constitui uma fonte de energia renovável que contribui para reduzir a utilização de combustíveis de origem fóssil.

Recentemente, o governo decidiu elevar para 5%, a partir de janeiro de 2010, a mistura de biodiesel no diesel comercializado em todo o país, o que faz prever um consumo total da ordem de 2,3 bilhões de litros do combustível ecologicamente correto no próximo ano.

Não obstante, como a capacidade instalada da indústria é de 3,6 bilhões de litros, há amplo espaço para atender à demanda adicional que surgiria com a comercialização no país de veículos leves movidos a diesel.

Portanto, ao abolirmos uma proibição obsoleta e injusta, estaremos não apenas dando ao consumidor brasileiro a inquestionável liberdade de escolha de que gozam os compradores de carros em todo o mundo, mas também contribuindo para reduzir os níveis de poluição em nossas grandes cidades e estimulando a produção interna de um combustível renovável.

Jorio Dauster, 71, embaixador, consultor de empresas e tradutor, é presidente do Conselho de Administração da Brasil Ecodiesel. Foi presidente da Companhia Vale do Rio Doce (1999 a 2001) e do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (2003 e 2006). Folha de S. Paulo, Quarta, 04 novembro 2009.

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