• outubro 2008
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Colapso dos preços mundiais dos alimentos: estavam erradas as críticas aos biocombustíveis?

Os preços dos cereais e das oleaginosas utilizados na produção de biocombustíveis nos países desenvolvidos – como milho, trigo, óleo de soja e palma – está despencando. O milho e a soja perderam mais da metade do seu valor, enquanto o preço do trigo caiu ainda mais e agora custa 55% a menos que em março deste ano, quando apresentava seu preço mais alto. A colza (matéria prima para a produção de biodiesel na Alemanha, na França e em outros países europeus) baixou de US$ 730 por tonelada no começo deste ano para US$ 400 por tonelada nos últimos dias.

Os preços de outros produtos agrícolas comercializados internacionalmente estão seguindo o mesmo comportamento. O cacau e o café se debateram perdendo mais de 40% do seu valor. O algodão está em queda livre também. Todos os produtos agrícolas importantes sofrem enormes perdas, ainda que não se verifique uma clara “demanda destrutiva” como no caso do petróleo. Esse fenômeno prova que os que disseram que os biocombustíveis não representaram um papel importante nos preços dos alimentos estavam certos. E que o exército de críticos dos biocombustíveis estava equivocado.

The Guardian é um dos poucos jornais que abertamente admitiram este erro:

“A forte demanda de milho por parte dos produtores de etanol norte-americanos foi considerada como um fator determinante nos mercados futuros para os recordes observados no mês de junho, mas a queda dos preços do milho e de outras matérias primas demonstra desde então que essa crença era equivocada”.

O preço do milho caiu cerca de 50% desde o seu ponto mais alto em junho, inclusive quando a quantidade de grãos utilizados para produzir combustíveis renováveis nos EUA continuava sendo a mesma. “O recorde de preços foi uma bolha especulativa”.

O melhor exemplo do papel dos biocombustíveis nessa estranha estória de embate com os alimentos pode ser encontrado observando-se o movimento dos preços do arroz, um dos principais cultivos do mundo. Um exemplo que já havia sido apresentado anteriormente. O arroz não é utilizado como matéria prima para biocombustíveis em nenhuma escala significativa, mas seu preço de repente aumentou no início deste ano, alinhado com os recordes nos preços do petróleo, para cair espetacularmente há poucas semanas. Nada de biocombustíveis, nada de “demanda destrutiva”, e ainda assim, preços excessivamente voláteis, seguindo a trajetória do petróleo. Isto só pode ser resultado de outras forças de mercado.

A correlação entre a rápida queda dos preços do petróleo – que caíram de quase US$ 150 para abaixo de US$ 65 o barril – e os preços nos mercados agrícolas é evidente. Os movimentos dos preços dos cereais comercializados internacionalmente formam parte do maior boom especulativo, junto com o petróleo, que flutuava com o valor do dólar (e possivelmente em antecipação à crise de crédito). A produção de biocombustíveis cresceu de forma gradual nos 2 últimos anos, enquanto que os preços das matérias primas deram um salto e então caíram.

 

Hoje se produz praticamente a mesma quantidade de biocombustíveis que antes que os preços das matérias primas e dos alimentos despencassem e as pessoas não estão comendo menos. Mas os preços das matérias primas e dos alimentos estão em queda livre.

Parece que aqueles que culparam os biocombustíveis pelo incremento dos preços dos produtos agrícolas cometeram um erro problemático.

Os mais cautelosos (e freqüentemente os menos barulhentos) – como os especialistas em produtos agrícolas da Universidade de Wageningen na Holanda – acertaram quando disseram que os biocombustíveis, na melhor das hipóteses, representaram um papel marginal. Num momento em que os críticos dos biocombustíveis foram muito severos e os preços dos alimentos eram os mais elevados do momento, os especialistas de Wageningen se arriscaram a escrever que os preços dos alimentos continuariam caindo. Os analistas da Comissão Européia também não foram longe demais ao dizer que os biocombustíveis eram responsáveis somente por algo entre 1 e 2% do aumento total do preço dos alimentos: declararam culpados principalmente a especulação nas matérias primas e os altos preços do petróleo. Também tinham razão.

Lições a serem aprendidas

O fato de que muitos críticos dos biocombustíveis estavam equivocados sustenta uma lição importante para o debate futuro dos combustíveis renováveis. Algumas partes neste debate têm uma agenda ideológica tão forte que faz com que ignorem as análises mais básicas e racionais baseadas no pensamento racional e simples economia. Não se podem dar ao luxo de repetir esse erro no futuro, porque isto poderia arruinar a sua credibilidade de uma vez por todas.

Tradução livre de post da entrevista com o presidente da Abengoa sobre a crítica aos biocombustíveis. Para ver o original, clique aqui

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