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Biodiesel tem seu balanço energético revisto

Novo estudo mostra que são geradas 3,5 unidades de energia para cada unidade consumida na produção do biodiesel

Uma nova análise mostra que o balanço energético do biodiesel é uma relação positiva de 3,5 : 1. Para cada unidade de energia fóssil consumida no ciclo de produção do biocombustível, o retorno é de 3,5 unidades de energia, de acordo com uma nova pesquisa realizada pela Universidade de Idaho, em cooperação com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA). O anúncio do aumento – de 3,2 para 3,5 – foi feito na Conferência e Exposição Nacional de Biodiesel em Orlando (Flórida), EUA.

O Departamento de Energia do Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL) e o USDA realizaram o primeiro estudo detalhado sobre o ciclo de produção do biodiesel em 1998. Na ocasião, determinaram uma relação de 3,2 : 1 para o biodiesel, enquanto o diesel mineral derivado do petróleo rendeu somente 0,83 unidades de energia para cada unidade da energia fóssil consumida. As muitas mudanças que ocorreram no biodiesel e na agricultura norte-americana desde os anos 90 levaram os pesquisadores da Universidade de Idaho a revisar o estudo, em cooperação com o USDA. Ambos os estudos, de 1998 e 2007, são baseados na produção de biodiesel a partir do óleo de soja, que de acordo com estatísticas oficiais dos EUA é o responsável por mais de 80% da produção estimada de biodiesel em 2007. O balanço  energético do biodiesel melhorou no estudo de 2007, ainda que a nova análise seja mais abrangente que a anterior, e considere também a energia consumida na manufatura do maquinário utilizado nas fazendas que produzem soja.

“O resultado é que o balanço energético do biodiesel melhorou significativamente na última década,” diz o chefe do Departamento de Engenharia Biológica e Agrícola da Universidade de Idaho, Jon Van Gerpen, que dá os créditos ao professor assistente Dev Shrestha e ao estudante de graduação Anup Pradhan pelo trabalho realizado no estudo. “O aumento do rendimento da soja e a diminuição do uso de herbicidas contribuiu extremamente para o balanço energético favorável. E a energia usada no esmagamento da soja é significativamente menor do que o que foi relatado no estudo anterior da NREL.”

Os pesquisadores encontraram nos dados estatísticos oficiais, de 1975 a 2006, que o rendimento da cultura da soja aumentou à taxa de 0,6 bushels por acre por ano. Além disso, a aplicação de fertilizantes permaneceu essencialmente a mesma e a aplicação de herbicidas declinou a um quinto da taxa de 1998. A redução da aplicação de herbicidas tem um benefício adicional, pois requer menos óleo diesel para a pulverização do campo.

No item processamento, melhorias na tecnologia de esmagamento da soja resultaram em 55% menos energia do que a necessária no estudo anterior da NREL. Embora a transesterificação para converter o óleo de soja em biodiesel tenha se tornado também um processo mais eficiente, esta etapa contribui somente com uma pequena fração da energia total em analisada.

O anúncio foi feito durante sessão da conferência que destacava os desenvolvimentos promissores de fontes alternativas, variando de índices mais elevados de óleo na soja a novas fontes, como as algas. O Comitê Nacional de Biodiesel (NBB) lançou iniciativas para o desenvolvimento do suprimento e para ajudar o mercado a estimular novas fontes para o biodiesel.

“Como a demanda por biodiesel tem se incrementado, suprimentos disponíveis à vontade e com preços competitivos continuam a ser itens importantes,” disse Ed Hegland, presidente do NBB e produtor de soja em Minnesota. “O óleo de soja continuará a desempenhar um papel importante, mas estamos animados também com a perspectiva das algas e de outras fontes alternativas. A subida da maré levanta todos os barcos.”

Biodiesel é um combustível alternativo mais limpo que pode usado em todo o motor diesel. Combustível renovável, que pode ser produzido domesticamente a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais. O uso do biodiesel em motores diesel convencionais resulta em substancial redução da emissão de hidrocarbonetos, de monóxido de carbono e de materiais particulados.

O texto acima é uma tradução livre. Para ver o original, em inglês, clique aqui.

 

“Green Dreams”

A National Geographic Magazine traz, em sua edição de outubro de 2007, uma matéria muito interessante com o título “Sonhos Verdes”. Fala principalmente do etanol, mas também do biodiesel. Se você ainda não leu, aproveite:

Clique aqui para ver a matéria em português.

Clique aqui para ver a matéria original, em inglês.

 

Biodiesel: a experiência paranaense

A hora é boa para esclarecer. Banha de porco ou óleo de soja, soda e água, aquecidos, produzem sabão. Se a água cede lugar ao etanol ou metanol, o produto é um biodiesel etílico ou metílico, respectivamente, além de glicerina, de interesse farmacêutico. O óleo diesel contém enxofre (gerador de chuva ácida) e benzo-pireno (potencialmente cancerígeno). O biodiesel etílico proporciona uma combustão muito mais limpa. Química à parte, qualquer transeunte sabe do desconforto (mas não do risco) do escapamento de veículo pesado movido exclusivamente a diesel. Daí ser benéfico adicionar ao diesel uma parcela dos oxigenados como biodiesel e/ou etanol (como se faz há longa data com a gasolina). De fato, um mínimo de biodiesel é o que viabiliza a mistura diesel + etanol, naturalmente imiscíveis. Isto gera menos fumaça preta, rende mais saúde e… créditos de carbono!

Nesta arte, o Estado-celeiro Paraná, comparando combustíveis convencionais versus biocombustíveis inovadores, vai escrevendo sua história, e nela o TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná), órgão da SETI/PR (Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) tem cadeira cativa:

1. 1983-1985: na COCAMAR de Maringá, a equipe de Richard Fontana, Gerente Industrial, e Germano Ottmann, da então COCAP, fez rodar, por 20 meses, 4 caminhões Mercedes-Benz e Scania-Vabis por centenas de milhares de km, na base de diesel versus 100% de biodiesel etílico de borra de refino de óleo de caroço de algodão. O 2º venceu como lubrificante, menor emissão de fumaça e até em redução de consumo. A expansão da planta de 250 l/dia foi bloqueada alhures por ato do então regime de exceção. Saldo líquido: 20 anos de atraso no embrião de um Programa Paranaense de Biodiesel!

2. 1984: na Engenharia Mecânica da UFPR, os relatórios FONTERME 1 e 2 dos Profs. Nilton Buhrer, Gregório Bussyguin e José Carlos Laurindo (este também um especialista do TECPAR no tema) descreveram a produção de biodiesel metílico de óleo de soja e o ensaio bem sucedido em motor diesel na bancada.

3. 1998: a parceria TECPAR/URBS/SMMA usou B-20m (80% diesel + 20% biodiesel metilico da American Soybean Association) em 40 ônibus (Mercedes-Benz, Volvo e Scania) da Viação Sto. Antonio, por 450 mil km: redução 18 a 33% nos índices Bosch e Opacidade, de poluição.

4. 1998/1999: TECPAR e URBS operaram 2 ônibus dos Transportes Coletivo Glória com MAD11 (combustível ternário com 86,2% de diesel + 11,2% de etanol anidro + 2,6% de AEP-102, um ingrediente biodegradável para combustíveis ecológicos estabilizados ou variante de biodiesel da ECOMAT-MT) por mais de 200 mil km, avaliando o efeito sobre bicos injetores junto à BOSCH. O TECPAR testou então a MAD8 (apenas 8% de etanol na mistura) com motor em dinamômetro no IPT-SP.

5. 1999: TECPAR e VOLVO ensaiaram B-20m em motor de ônibus bi-articulados. Fuligem 29% menor e torque/potência afetados em menos de 2,6%.

6. 2000/2001: TECPAR e URBS movimentam 50 ônibus das Viações N. Sra. da Luz e Marechal, com a pré-testada MAD8; 10% dela nos 6 milhões de litros de diesel/mês no transporte coletivo de Curitiba reduziria a poluição do ar em 120 ton. de fuligem.

7. TECPAR e LACTEC ensaiam, desde novembro de 2002, um GOLF 1.9 a diesel cedido pela UFPR, (exportado aos milhares pela AUDI-VW do PR) com a binária B-20e (20% de AEP-102 + 80% de diesel REPAR/PETROBRAS). Faz 11,04 km/l na cidade e 15,13 km/l na estrada, após mais de 20.000 km rodados.

8. Em 24 de outubro de 2002 são firmados, durante o Seminário Brasileiro de Biodiesel (Curitiba-PR), entre o MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia) e a SETI-PR, o Protocolo de Intenção 07.0002.00/2002 (D.O.U. 215, seção 3, pg. 4; 6/11/2002) e o Convênio de Cooperação 01.0029.00/2002 (D.O.U. 216, seção 3, pg. 4; 7/11/2002), respectivamente para o uso / aprimoramento da mistura diesel + etanol anidro + biodiesel (MAD8 ou DESOL) e criação do CERBIO (Centro Brasileiro de Referência em Biocombustíveis). O TECPAR, tendo reconhecida sua competência histórica de mais de 2 décadas na experimentação bem sucedida com biocombustíveis, é designado pela SETI-PR para sediar o CERBIO. Simultaneamente, o MCT baixa a Portaria 702, em 30.10.2002 (D.O.U. 215, seção 1, pg. 23; 6/11/2002) instituindo o PROBIODIESEL (Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico de Biodiesel) e um leque crescente de parcerias multi-facetadas Brasil afora começa a se desenhar em torno do CERBIO/TECPAR/SETI-PR, já somando 38 instituições.

Tal Centro tem comparecido às reuniões de Brasília, SP e Rio, organizado as de Curitiba e vai estreitando as relações com o MME em Brasília; UFRJ, COPPE e INT do RJ; FGV, ABIOVE, USP-RP, CENBIO, SINDIPEÇAS de SP; ECOMAT do MT; UESC da BA; UFPR, COAMO, ALCOPAR, URBS, SMMA e LACTEC do PR, enquanto aguarda a ANFAVEA, CENPES-PETROBRAS, UNICA-SP, BOSCH, CEFET-RN e o Ceará pioneiro, além de presente com palestras no evento “Biocombustível / Frota Verde” de Goiânia-GO em 19/3/2003, compartidas com o MCT/CADE, MDIC, MAPA, Transportes N. Sra. da Glória e URBS de Curitiba; esta parceira nos relatórios ante a ANP. O CERBIO co-financiou e fez apresentações no Congresso de Biodiesel na USP-Ribeirão Preto de abril passado.

Não obstante a estrutura em construção, o Centro está aberto a todos e torce para que a ação frutifique em favor de um meio ambiente mais limpo. Não é despropositado especular que no Paraná a história seja escrita – uma vez mais – antes. Seria um notável adendo a isenção e redução de ICMS com a qual o Governador Requião deu a largada de governança. A propósito, na concorrida reunião de 11/6/2003 que o Sr. Secretário de Agricultura, Orlando Pessutti, convocou para a EMATER e na qual também falou como Vice-Governador em nome do Governador Roberto Requião, a fitobiomassa oleaginosa / sucro-alcooleira, a matriz energética e o biodiesel paranaenses foram a tônica, a par de uma nova concepção da COPEL. Aos anfitriões e a esta força política e técnica foi manifestado o convite do Sr. Secretário Aldair Rizzi para o evento em “Biodiesel-PR” de julho/2003, sendo organizado pela SETI-PR e a ser sediado na UEL de Londrina. Ali será escrito um 1º capítulo de um “Livro Verde da Fitobiomassa Paranaense”.

As semanas pregressas também estiveram pontilhadas de eventos pró-biodiesel na EMATER/CREA-Maringá, FIEP e Instituto Euvaldo Lodi. Pulsantes também as Universidades, a EMBRAPA-PR e o IAPAR. Em Goiás, o próprio setor canavieiro estará implantando a MAD8 curitibana em sua frota cativa. A COAMO, divulgando sua próxima futura planta de biodiesel. Compilados pelo CERBIO/TECPAR e pré-avaliados pela Diretoria Executiva do Instituto, farto documental a respeito da experiência com neo-combustíveis e sua pré-viabilidade técnica, econômica e sócio-ambiental está sendo entregue ao titular da SETI-PR. Dali tais argumentos poderão ser depositados no MME (Ministério de Minas e Energia), o qual mantém a mais promissora interlocução com o MCT, este o ministério-sede da intensa luta pelo biodiesel.

O trio CERBIO/TECPAR/SETI-PR entende estar cumprindo sua parte no cenário de tecnologias sociais – qualidade de objetivo e quantidade de cidadãos-alvo – preconizado pelo novo Governo do Paraná.

José Domingos Fontana é Diretor Técnico do TECPAR, Coordenador pro-tempore do CERBIO, Prof. Visitante Voluntário da PG em Ciências Farmacêuticas da UFPR, Pesquisador 1A do CNPq e 11º Prêmio de C&T no PR.